A importância de entender antes de contratar

Ao longo dos muitos anos em que escrevo esta coluna, recebi inúmeros e-mails de leitores me contando sobre experiências ruins com um produto ou serviço financeiro. Eles frequentemente me pedem recomendações, embora eu muitas vezes não consiga ajudá-los.
Um leitor, por exemplo, havia cadastrado seu carro na Uber para ganhar um dinheiro extra. Era um carro que ele usava para ir ao trabalho, mas nas horas vagas, ele fazia um ou dois outros serviços. Ele nunca percebeu que sua apólice excluía qualquer outro uso, porque o risco muda, assim como o prêmio. Certa vez, ele sofreu um acidente a caminho do trabalho, sem passageiros: a seguradora recusou a oferta porque o veículo era da Uber e seu seguro não era adequado. Infelizmente, não havia como ajudá-lo.
Há algum tempo, recebi outro exemplo: uma pessoa que fez seguro para um carro que comprou de uma seguradora e que havia sofrido danos, perda total, mas foi totalmente reparado. Como era um modelo daquele mesmo ano, decidiu segurá-lo pelo valor da fatura e esperar ser pago como novo. Não só o carro estava subassegurado, como a seguradora, de acordo com os termos do contrato, estava aplicando depreciação adicional ao valor comercial.
Existem muitos casos como este. Por exemplo, aqueles que reclamam que o banco sacou dinheiro da sua conta consignada sem autorização para pagar o cartão de crédito, que não estava em dia. Obviamente, eles não leram o contrato que assinaram. Quase todos contêm uma cláusula autorizando o banco a fazer uma transferência automática de fundos para manter as contas em dia (autopay).
O mesmo se aplica aos pagamentos antecipados de empréstimos hipotecários. Alguns bancos reduzem a mensalidade, outros o prazo, e alguns até oferecem essa opção. Mas é impossível saber o caso específico sem ver o contrato assinado. Em geral, é melhor que a mensalidade permaneça a mesma e que o pagamento antecipado reduza o prazo do empréstimo.
Histórias como essas — e outras — são muito comuns porque as pessoas compram produtos e serviços financeiros completamente às cegas. Elas não leem nem entendem as características do que estão comprando, nem mesmo como o produto funciona ou se ele é adequado às suas necessidades.
No caso de seguros, eles não entendem conceitos básicos, como o uso do bem segurado. Por exemplo: você segura sua casa, depois se muda e usa esse imóvel como depósito para sua empresa de pneus, enquanto o aluga. Se algo acontecer, a seguradora não lhe pagará, porque o risco é muito diferente. Você segurou como uma casa, não como um depósito. Isso representa um aumento fundamental no risco e é coberto não apenas pelas condições gerais de cobertura, mas também por lei. O mesmo acontece quando você também usa seu carro pessoal para transporte de passageiros, e é por isso que você precisa adquirir o seguro adequado à sua situação.
Sempre tive dificuldade em entender por que as pessoas fazem isso, quando se trata de algo tão importante quanto seu próprio dinheiro. Seus ativos. Muitos simplesmente confiam no que o executivo da instituição financeira lhes diz, porque deveriam saber mais. Mas muitas vezes não é o caso: são vendedores mal treinados que trabalham para as empresas, não para nós, e cuja renda depende, em grande parte, da venda de algo para nós. Portanto, eles têm um forte conflito de interesses. É claro que também existem pessoas com conhecimento e ética profissional que colocam os interesses do cliente acima dos seus. Mas eles são a minoria.
É por isso que precisamos aprender a assumir a responsabilidade por tomar decisões financeiras, porque, em última análise, somos nós que tomamos as decisões (incluindo a decisão de fazer o que os outros nos dizem). Também enfatizei que bons conselhos são muito valiosos, mas é preciso saber como se aconselhar. Cabe a nós decidir se o conselho que recebemos é bom ou ruim para as nossas necessidades específicas.
Por outro lado, ao adquirir um produto ou serviço financeiro, você sempre assina um contrato (ou um requerimento que faz parte integrante do contrato). Ele estabelece os direitos e obrigações de ambas as partes. Antes de assiná-lo, você deve pelo menos saber com o que está concordando, o que é obrigado a fazer e o que receberá em troca. É o mínimo que podemos fazer por nós mesmos e pelo nosso dinheiro.
Eleconomista