Toneladas de mel e pescado brasileiros estão parados em portos por taxação de Trump, dizem setores

A investida tarifária do presidente Donald Trump contra o Brasil, impondo uma taxa básica de 50% sobre a importação de produtos brasileiros, já produz seus primeiros efeitos práticos. Nos últimos dias, exportações de mel orgânico e pescado brasileiros para o mercado norte-americano foram suspensas, acumulando mercadoria nos pontos de saída dos produtos.
Isso aconteceu depois que norte-americanos cancelaram operações que estavam em andamento, deixando contêineres parados em portos brasileiros.
Mel orgânicoNo caso do setor agrícola, 95 toneladas de mel orgânico produzido no Piauí permanecem bloqueadas no porto do Pecém, no Ceará, segundo informou no último domingo 13 a Central de Cooperativas Apícolas do Semi-Árido Brasileiro (Casa Apis).
Segundo a entidade, o cancelamento ocorreu na tarde de sexta-feira, apenas dois dias após Trump anunciar as sanções comerciais contra produtos brasileiros. Embora as tarifas só comecem a valer no próximo dia 1º de abril, importadores começaram a se antecipar à nova realidade comercial.
Sitônio Dantas, presidente da Casa Apis, concedeu entrevista à TV Globo e tratou do tema. “Infelizmente, recebemos o comunicado dos nossos clientes mandando suspender o embarque. Nós estamos com cinco contêineres, cerca de 95 toneladas de mel, no porto do Pecém. Já foi feito todo o despacho aduaneiro, só aguardando os navios fazerem as operações de embarque”, resumiu.
PescadoO setor pesqueiro foi outro que, até agora, não escapou. Desde a última quinta-feira, 10, as exportações de pescado brasileiro para os Estados Unidos estão completamente suspensas, conforme informou a Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca).
Quando Trump anunciou a subida das taxas para o Brasil, já se projetava que o setor seria um dos mais afetados. Agora, pelo menos 1.500 toneladas de peixes e frutos-do-mar, distribuídas em 58 contêineres frigoríficos, tiveram o embarque cancelado. Os produtos estavam prontos para partir dos portos de Salvador (BA), Pecém (CE) e Suape (PE).
A paralisação ocorreu um dia após o anúncio das tarifas. Os importadores americanos interromperam imediatamente as operações, preferindo evitar os riscos da nova tributação.
Busca por soluçõesDiante do cenário de incerteza, produtores tentam desenhar soluções, seja na tentativa de negociar uma melhoria nas condições comerciais com os EUA, seja tentando diversificar o mercado.
Nesta segunda-feira 14, o governo Lula (PT) deve dar início às atividades de um comitê interministerial com empresários. Conduzido pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o grupo servirá como instância de articulação direta com o setor produtivo, visando encontrar saídas para a nova taxação norte-americana.
CartaCapital