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TAP preparada para descolar

TAP preparada para descolar

Não há volta a dar: vender a TAP é imperativo, ainda que o Governo tenha passado de uma ideia de uma privatização a 100% para colocar à venda apenas 49% da companhia aérea portuguesa. Pressão da oposição, pode dizer-se. O ministro das Infraestruturas já admitiu que quer fechar este processo de alienação nas próximas semanas e o ministro das Finanças também acena com esse prazo. E Miguel Pinto Luz tem mantido a sua posição em relação ao futuro da empresa: «Privatizar não é desistir. É garantir que a TAP é viável, estratégica e útil para o país» e que vai ao encontro das recentes declarações do secretário de Estado Hugo Espírito Santo ao defender que só através da privatização é que se pode uma companhia sustentável no futuro. «Um processo que tem de ser feito com o apoio de um parceiro estratégico», referiu.

Para já, o Governo tem nas suas mãos as avaliações para avançar na venda, tendo em conta que o Banco Finantia e a EY já entregaram os relatórios que avaliam o valor comercial da companhia portuguesa. O valor continua em segredo dos Deuses, mas o Executivo continua sem dar o pontapé de saída que é a criação de uma comissão de acompanhamento, como alerta ao Nascer do SOL, Sérgio Palma Brito.

«O valor que é apresentado nas avaliações é confidencial e muito dificilmente será agora divulgado. Vão manter isso fechado num cofre de acesso super restrito, mas o que é grave é que o Governo é obrigado por lei a criar uma comissão de acompanhamento de privatização que tem de ser formada por pessoas competentes e independentes e até agora não foi criado nada. O Governo está a falhar das regras da transparência e não podem dizer que ainda não começaram o processo porque caso contrário não tinham pedido as avaliações», salienta. E deixa um recado ao ministro das Infraestruturas: «Pinto Luz que se cuide, pois está a dar um pontapé num ninho de vespas».

Já ao Nascer do SOL, Pedro Castro, especialista em aviação comenta o facto de o Governo já ter recebido os dois relatórios, explicando que «este tipo de relatório ajuda o Governo a entender o valor de mercado da empresa e a distanciar-se do valor emocional e eleitoral – aquele que geralmente é expresso por afirmações como ‘a nossa bandeira nos céus’ ou ‘as nossas novas caravelas’», acrescentando que geralmente são bastante completos «e integram também uma identificação de riscos e ameaças que é justamente aquilo que os potenciais compradores vão utilizar para ‘negociar’». Nesse sentido, «o Governo já estará mais preparado para enquadrar e enfrentar algumas dessas questões e preocupações».

Questionado sobre se tem ideia de que valores estamos a falar nestas avaliações, o especialista diz que há vários elementos que serão analisados e que o da marca é o mais óbvio, deixando o exemplo da extinta Alitalia que foi recentemente comprada por 90 milhões de euros. «Já todo o restante negócio aéreo da Alitalia (sem a marca) foi vendido por um euro simbólico, isto devido ao enorme passivo».

No caso de Portugal, adianta Pedro Castro, «parece que se colocaram os ativos tóxicos da empresa – incluindo a dívida de 177 milhões à companhia brasileira Azul, por exemplo – na TAP SGPS que agora se chama Siavilo SGPS para perder a ligação ao nome da companhia aérea e que se encontra sem órgãos sociais. Está-se mesmo a ver que, mais dia menos dia, os contribuintes vão ser chamados a pagar o passivo da Siavilo SGPS e que ninguém vai ligar isso à TAP».

Ou seja, acrescenta, «o que se pretende vender agora é a TAP Air Portugal, e o que consta dela que são, na verdade, as partes menos disfuncionais da TAP, das quais se tem destacado com grande evidência a unidade TAP Manutenção e Engenharia. Da unidade de voo propriamente dita, aquela que é mais valiosa é a dos slots no aeroporto da Portela».

Pedro Castro adianta que a TAP detém cerca de 50% das faixas de aterragem e de descolagem «de um aeroporto dito congestionado, isto é, tem aqui uma ‘fortaleza natural’ enorme contra a concorrência e uma capacidade de crescimento muito confortável. Contrariamente àquilo que se diz, a TAP não tem qualquer impedimento em crescer na Portela – basta mudar a frota de 20 aviões da TAP Express dos atuais 100 lugares para aviões de 150 ou 160 lugares e só com isso já cresce 50%. Apenas precisa de quem possa investir nessa nova frota». Por isso, o especialista diz acreditar que «não iremos ouvir falar do ‘novo’ aeroporto de Lisboa durante uns tempos, de forma a proteger ao máximo este valor alto da TAP».

Tendo em conta este enquadramento e a restruturação «que foi estrategicamente feita da ‘TAP boa’ e da ‘TAP má’, estou convencido que o valor de 100% da ‘TAP boa’ rondará algures entre os 1,2 e 1,5 mil milhões de euros. O futuro comprador fará também contas às sinergias de custos e de escala obtidas pelo grupo com esta compra. Esse é, por exemplo, um aspeto que não constará dos relatórios do Governo porque é algo intrínseco ao comprador».

Vender a 100%Ao contrário do Governo que afasta a possibilidade de alienar a 100%, os especialistas contactados pelo Nascer do SOL criticam esta posição, defendo que a melhor solução seria vender a empresa na sua totalidade. «A Brigada de ‘o Estado a mandar na TAP’ e ‘privatizar menos de 50%’ acaba de chocar estrondosamente com a realidade europeia que insistem em ignorar desde 1993. Portugal tem de fazer o que Espanha, Irlanda, Reino Unido, França, Holanda, Áustria, Suíça, Bélgica, Itália que para lá caminha fizeram e que passa por privatizar a TAP a 100%, podendo começar a 51%, com o compromisso de chegar a 100%», diz Sérgio Palma Brito.

Também Pedro Castro acredita que vender apenas 49% da transportadora «é uma enorme menos valia até pela dimensão política que lhe está associada. Tendo em conta o debate ideológico à volta da TAP e aquilo que é defendido pela maioria parlamentar atual, AD e Iniciativa Liberal são os únicos que estariam abertos a uma venda a 100%». E estão em minoria. O especialista em aviação coloca então algumas questões: «Até quando esta corrente será minoritária? Será que a venda dos 49% corre tão bem que os outros partidos se deixam convencer mais tarde pela venda a 100%? Ou será que o PS dá outra guinada radical à esquerda ou o Chega se torna governo e ambos, por motivos populistas, começam a tratar mal o acionista privado minoritário como aconteceu no tempo de Pedro Nuno Santos? Tudo isto é uma grande incógnita. ».

Possíveis compradoresQuanto aos possíveis compradores, Pedro Castro diz que a TAP será do grupo «que estiver mais bem preparado para pegar numa companhia que precisa de investimento» – relembrando que o Estado foi autorizado pela Comissão Europeia a doar 3,2 mil milhões de euros, «mas não pode investir na companhia» -, «o grupo que conseguir lidar melhor com os sindicatos e o grupo que terá o antídoto adequado para lidar com um Estado-acionista que tem tendências disfuncionais e populistas». A juntar a isto, defende, «o grupo que, de um ponto de vista concorrencial, estiver mais protegido de remédios demasiado punitivos por parte da Autoridade da Concorrência em Bruxelas e noutras jurisdições».

Esta mistura de componentes financeira, social, política e concorrencial, na opinião do especialista em aviação, «serão determinantes para saber qual o ‘melhor’ grupo – o resto, se os aviões vão mais para a esquerda ou mais para a direita, no final todos os grupos querem exatamente o mesmo da TAP que é crescer e ganhar dinheiro».

Também Palma Brito aposta nestes três principais grupos interessados, desvalorizando mais candidatos, tal como tem sido avançado pelo Governo. «Só esses três grupos é que consolidam a TAP», lamentando a ideia que tem sido avançada por Carlos Tavares, ex-CEO Stellantis, que aposta na ideia de o Estado ficar com 40% do capital da empresa de aviação, os trabalhadores outros 20% e a criação um fundo de investimento com outros 20% que inclua empresas de turismo nacionais. Já os restantes 20% seriam vendidos a uma companhia aérea de fora da Europa.

«Carlos Tavares defende TAP independente num Continente onde as companhias aéreas significativas estão consolidadas, com exceção da Finnair. Estes países consolidaram a ‘transportadora aérea nacional’ de antes de 1993 em ‘transportador aérea europeia’, sem um só caso de inversão da decisão. Não podemos voltar ao ‘orgulhosamente sós’ e a ignorar ‘os ventos da história’ de antanho. PS e PSD defendem a consolidação num dos três grupos europeus (IAG, AF/KLM e Lufthansa Group)», recordou o especialista. Uma posição que vai ao encontro do que tem sido defendido por Luís Montenegro: «A TAP tem de estar integrada num grande grupo europeu, que assegure o hub em Lisboa e a ligação às comunidades portuguesas»

Resultados pesamOutro critério que será tido em conta diz respeito aos resultados da TAP. No 1.º trimestre, a empresa apresentou um prejuízo de 108,2 milhões até março, menos 18,1 milhões de perdas do que no período homólogo de 2024, num 1.º trimestre impactado por «eventos extraordinários», como foi admitido pela empresa.

Um desses episódios diz respeito à greve dos pilotos da PGA, que se prolongou durante 20 dias. «A comparabilidade dos resultados operacionais foi ainda afetada pela deslocação da Páscoa para o 2.º trimestre em 2025, ao contrário de 2024, quando ocorreu no 1.º trimestre. Estima-se que, juntos, tenham tido um impacto financeiro nos resultados operacionais entre 30 e 40 milhões».

Jornal Sol

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