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De Chicago a Chiclayo, o missionário e papa peruano

De Chicago a Chiclayo, o missionário e papa peruano

A história confirmou isso, e vimos isso recentemente com o Papa Francisco e, agora, com o Cardeal Robert Francis Prevost, o novo Bispo de Roma e 267º sucessor de São Pedro, eleito nesta quinta-feira, 8 de maio de 2025, na Cidade do Vaticano.

Às 18h08. (10h08 na Cidade do México), a fumata soltou fumaça branca, sinal de que os 133 cardeais reunidos na Capela Sistina desde quarta-feira elegeram, em um quarto turno de votação, o primeiro da tarde desta quinta-feira, o novo papa, um cardeal de 69 anos, natural de Chicago, Illinois (EUA), membro da Ordem de Santo Agostinho, com uma trajetória missionária de mais de 30 anos em comunidades indígenas do Peru, onde obteve sua dupla nacionalidade, com uma sólida formação espiritual e acadêmica, além de suas raízes multiculturais, que o tornam um papa ideal para o nosso tempo.

"Ele será um papa mais moderado e pragmático que Francisco; é uma fera discreta, mais onça que leão", diz Mónica Uribe, cientista política e doutora em história pela Universidade Iberoamericana, especializada em história da Igreja Católica.

"Não será João XXIV ou Francisco II, será Leão XIV", diz o Dr. David Foust, professor pesquisador do ITESO, referindo-se ao primeiro rascunho do novo líder da Igreja Católica. O segundo papa nascido nos Estados Unidos, o primeiro americano e o primeiro agostiniano na história do pontificado, que deve ser progressista em questões sociais, mas mais moderado em questões doutrinárias.

É curioso que o dia de sua eleição coincida com a festa da Virgem de Luján, padroeira da Argentina, cidade natal de seu antecessor, Francisco, e que Leão XIII, de quem Prevost toma seu nome e bandeira, tenha coroado essa devoção mariana.

O novo pontífice era muito próximo do falecido Papa Francisco, com quem compartilha algumas características: seu espírito missionário; Ambos eram membros de ordens religiosas, onde ocupavam cargos de alta responsabilidade, Bergoglio como superior provincial dos jesuítas na Argentina, e Prevost, superior geral dos agostinianos; Eles eram bispos em dioceses latino-americanas. Eles não ascenderam ao papado a partir dos círculos romanos de poder, mas sim das ruas empoeiradas da América Latina. Ou seja, eles tinham contato pastoral direto com os rebanhos mais humildes dos bairros e comunidades das periferias.

E foi o Papa Francisco que lançou a carreira eclesiástica de Prevost: primeiro chamando-o ao episcopado em 2014, depois nomeando-o bispo de Chiclayo, Peru, em 2015; Nomeou-o membro do Dicastério para o Clero em 2020 e, algum tempo depois, colocou-o à frente do Dicastério para os Bispos, dando-lhe o título de arcebispo, e no consistório daquele mesmo ano, 2023, criou-o cardeal diácono, e em fevereiro passado foi promovido à ordem de cardeal-bispo — um dos seis que compõem o Colégio Cardinalício —, atribuindo-lhe a diocese suburbicária de Albano.

Um 'gringo' com alma peruana

Para nossos analistas, não é por acaso que em seu primeiro discurso, aliás o mais longo da história que um pontífice já proferiu no dia de sua eleição (8 minutos), Dom Prevost preferiu enviar uma saudação em espanhol à sua "querida diocese de Chiclayo, no Peru", em vez de em inglês, sendo um americano.

Foi um momento em que seu rosto se transformou e seu sorriso se tornou mais transparente. "O coração dele falou", diz o professor Foust, porque ele é um peruano que nasceu nos Estados Unidos. A gente não decide onde nasce, mas pode escolher de onde vem, e ele decidiu ser peruano", acrescenta.

Para o Dr. Uribe, Leão XIV "será como um Papa Francisco, mas um gringo, com uma visão clara de ordem e progresso, o que também ajuda, mas com uma perspectiva muito popular e muito indígena, popular no sentido de estar próximo do povo e de ter servido em uma diocese predominantemente indígena".

"Ele também é um homem conciliador; não discute com ninguém; é um 'curialista', ou seja, não vê o que se passa internamente. Ele sabe o que se passa e, ao mesmo tempo, sabe o que se passa no mundo. A igreja conservadora nos Estados Unidos não está muito feliz", ressalta o especialista.

Por que Leão XIV?

O nome escolhido pelo cardeal Robert Prevost como novo papa é uma referência a Leão XIII, o primeiro papa do século XX, de acordo com os entrevistados. Um papa que, em meio a uma revolução industrial, queria uma mensagem sobre um modelo econômico — "que não era de Deus" — e lutava pela subsidiariedade dos meios de produção em favor das pessoas, diz Mónica Uribe.

"Leão XIII foi o papa que lançou as bases da doutrina social da Igreja com a encíclica 'Rerum novarum' (Sobre as coisas novas, 1891)", acrescenta o sociólogo David Foust, e que no final do século XIX, "diante do capitalismo selvagem e do socialismo incerto, ele queria ser uma ponte, propor uma alternativa, e acredito que no mundo polarizado de hoje, isso tem significado, e é por isso que o Papa Leão XIV recorreu ao seu antecessor Leão XIII."

Uma freira da congregação das Missionárias Franciscanas de Guadalupe, Rosa María de Anda Mata, compartilha comigo suas primeiras impressões: "Ele era o meu favorito; vou lhe dizer por quê: é um homem religioso, das antigas ordens; pelos seus estudos, pela sua experiência em países sul-americanos e por estar imerso em questões de imigração, sem mencionar a situação atual nos Estados Unidos. Não sou muito especialista nisso, mas o fato de ele ter assumido o nome de Leão XIV é uma indicação de seu ministério social e da unidade de que tanto precisamos."

Olhando para o seu papado, a Dra. Mónica Uribe prevê que "ele será um papa preocupado com a migração e a ecologia — ele reviverá o Sínodo da Amazônia — e será uma voz muito importante contra a guerra". Sobre questões polêmicas que o Papa Francisco tem enfrentado, como sua atitude em relação à comunidade LGBTQ+ e à comunhão para divorciados e recasados, Uribe diz: "Leão XIV não vai se envolver nessas questões; ele vai deixá-las esfriar porque, para ele, controlar corpos é secundário."

Por enquanto, o Papa Leão XIV, com o rosto às vezes tenso, mas sorridente e simples, apareceu na sacada principal da Basílica de São Pedro, vestindo o traje papal clássico que Francisco havia deixado para trás: a capa vermelha sobre a batina branca, a estola dos apóstolos e a cruz peitoral dourada, e delineou os primeiros traços de seu pontificado: ele antecipou "uma Igreja sinodal próxima daqueles que sofrem" e desejou "paz a todas as famílias e a toda a Terra, a paz esteja convosco", disse ele. “Esta é a paz de Cristo Ressuscitado, uma paz desarmada, desarmante, humilde e perseverante.”

Traços e gostos do novo papa:

  • Ele gosta de ceviche peruano.
  • Ele joga tênis desde jovem e é fã do time de beisebol Chicago Cubs.
  • Poliglota: fluente em inglês, espanhol, italiano, francês, português e latim.
  • Ele é multicultural, filho de pai de origem francesa e mãe de origem espanhola.
  • Ele é formado em matemática e doutor em direito canônico. Ele é um usuário frequente de mídias sociais.
Eleconomista

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