Benefícios fiscais custam ao país quase seis reformas tributárias

Muitas das isenções não têm base técnica e nem são avaliadas periodicamente.
Imagem ChatGPT
Em meio a uma situação fiscal complexa e crescentes pedidos por uma nova reforma tributária, um número preocupante surgiu recentemente do Observatório Fiscal da Universidade Javeriana, que alerta que para cada US$ 100 arrecadados pelo governo colombiano, ele perde quase US$ 50 devido a benefícios fiscais.
Isso abre o debate sobre a necessidade de uma nova reforma ou apenas uma revisão dos benefícios, tendo em vista que a perda estrutural de receita, equivalente a 49% do total arrecadado, representa um dos principais desafios à sustentabilidade das finanças públicas.
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Especificamente, de acordo com o relatório, embora o país tenha alcançado um número histórico de arrecadação de receitas equivalente a 16% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em 2023, uma proporção substancial desse esforço foi compensada por isenções, deduções e tratamento preferencial, que, segundo a análise do Observatório, equivalem a 8,7% do PIB.
Para colocar isso em perspectiva, o custo fiscal desses benefícios é mais de seis vezes maior do que a receita arrecadada pela reforma tributária de 2022, que visava apenas 1,4% do PIB. Diante disso, a pergunta inevitável é se vale a pena manter um sistema que oferece alívio fiscal com pouca avaliação de sua eficácia.

Muitas das isenções não têm base técnica e nem são avaliadas periodicamente.
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O novo Marco Fiscal de Médio Prazo (MFMP), apresentado pelo Ministério da Fazenda em 14 de junho, reconhece que a Colômbia enfrenta uma situação crítica de aumento dos gastos públicos, aumento da dívida e uma estrutura de receita insuficiente para financiar as necessidades do Estado. Portanto, nesse contexto, a revisão dos gastos tributários apresenta uma alternativa poderosa e urgente.
Longe de ser um valor marginal, os gastos tributários representam um componente estrutural do sistema tributário colombiano. Entre 2019 e 2023, esses benefícios representaram, em média, 50% da receita bruta. O pico foi atingido em 2022, quando esse valor chegou a 57%, o que significa que, para cada peso arrecadado, o Estado perdeu outro”, afirma o relatório.
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Em termos de PIB, o Observatório também informou que a perda anual de benefícios fiscais oscilou entre 7% e 9%, um número que chama a atenção pela persistência e pela falta de supervisão técnica.
A questão é que, em teoria, o tratamento preferencial no sistema tributário visa impulsionar setores estratégicos, incentivar investimentos ou aliviar a carga sobre populações vulneráveis. No entanto, na Colômbia, não há uma política clara que priorize, mensure ou refine esses benefícios, e muitos sobrevivem mais por inércia legislativa ou pressão setorial do que por mérito comprovado.

Muitas das isenções não têm base técnica e nem são avaliadas periodicamente.
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Entre 2021 e 2022, o valor total dos benefícios fiscais aumentou de US$ 88,3 bilhões para US$ 114,3 bilhões, um aumento de 29,4%. Segundo o Observatório Fiscal, mais de 70% desse valor concentra-se no IVA, seguido pelo imposto de renda de pessoas jurídicas e físicas. Assim, a estrutura das despesas tributárias revela uma forte orientação para setores com maior capacidade de lobby, em detrimento de objetivos redistributivos ou de desenvolvimento regional.
Quem realmente se beneficia?Uma das conclusões mais críticas do relatório é a alta concentração de benefícios fiscais. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (DIAN), analisados por Javeriana, as 10% maiores empresas recebem mais de 90% dos incentivos fiscais disponíveis, enquanto as micro, pequenas e médias empresas, que constituem a maior parte da comunidade empresarial do país, recebem apenas uma fração marginal.
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Esse padrão questiona a progressividade do sistema tributário, pois, em vez de reduzir as desigualdades, o atual regime de benefícios amplia as lacunas ao fornecer alívio aos menos necessitados e limitar os recursos estatais para financiar serviços públicos essenciais, como saúde, educação e infraestrutura.
Além disso, a falta de avaliações técnicas periódicas é outra fragilidade estrutural. Ao contrário dos gastos orçamentários diretos, os benefícios fiscais não passam pelo escrutínio regular do Congresso nem estão sujeitos a regras de eficiência. Uma isenção pode persistir por anos sem que ninguém avalie seu impacto econômico ou social. Em muitos casos, os objetivos que justificaram sua criação não são claros.

Muitas das isenções não têm base técnica e nem são avaliadas periodicamente.
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No Índice Global de Transparência Tributária (GTETI), a Colômbia ocupa a 35ª posição entre 105 países avaliados, com apenas 52 pontos em 100. Embora o MFMP tenha começado a reportar esses benefícios, as informações permanecem genéricas, inacessíveis e carecem de análise de custo-benefício. Isso deixa o país sem as ferramentas para decidir quais benefícios devem ser mantidos, ajustados ou eliminados”, acrescentaram.
Eles destacaram que, embora a Colômbia esteja progredindo lentamente, outros países da região têm dado passos importantes. Chile e México, que publicam e avaliam regularmente seus benefícios fiscais, permitindo ajustes baseados em evidências, e Canadá e Reino Unido, que institucionalizaram processos de revisão periódica e exigem justificativa técnica para a continuação de cada incentivo, também tornaram obrigatória a justificativa para a continuidade de cada incentivo.
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"Essas boas práticas permitem que os benefícios fiscais funcionem como verdadeiros instrumentos de política pública, em vez de privilégios permanentes. Além disso, fortalecem a confiança dos cidadãos no sistema tributário e melhoram a eficiência no uso dos recursos públicos", afirmou o Observatório.
A verdadeira reformaNeste contexto, o Observatório Fiscal propõe que a próxima reforma tributária não pode se concentrar apenas no aumento de impostos, mas deve começar por uma revisão integral do sistema de benefícios fiscais, tendo em mente que a eliminação de tratamentos ineficientes ou regressivos não só ampliaria a base tributária como também reduziria o déficit sem onerar os contribuintes.

Muitas das isenções não têm base técnica e nem são avaliadas periodicamente.
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"Estamos diante da oportunidade de implementar uma reforma que não aumenta a arrecadação, mas sim corrige distorções, melhora a equidade e restaura a sustentabilidade do sistema tributário", afirma o relatório. O relatório também propõe que todos os benefícios fiscais sejam tratados como gastos públicos, com objetivos definidos, prazos de validade, avaliação técnica e aprovação parlamentar.
Embora reconheçam que modificar o regime de benefícios fiscais não será fácil, esses especialistas enfatizam que muitas isenções são protegidas sem critérios técnicos e que adiar a discussão tem um custo elevado. Com o aumento da dívida pública, a pressão sobre o erário e os novos compromissos sociais, o país não pode continuar a recompensar a ineficiência fiscal.
DANIEL HERNÁNDEZ NARANJO Jornalista de Portfólio
Portafolio