Selecione o idioma

Portuguese

Down Icon

Selecione o país

Portugal

Down Icon

Portugueses afinam "células personalizadas" contra o cancro

Portugueses afinam "células personalizadas" contra o cancro

Chamam-se células CAR T, são uma das maiores esperanças na ciência para o tratamento do cancro e um consórcio de investigadores portugueses está a trabalhar num contributo fulcral: perceber como estas células dos próprios doentes, modificadas em laboratório para reconhecer e atacar só as células cancerígenas, podem funcionar melhor. Em parceria com o Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto e a unidade de investigação UCIBIO da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA de Lisboa (NOVA FCT), a empresa de biotecnologia e medicina regenerativa Stemmatters lidera o consórcio CAR T Matters. Mas o que são estas células CAR T e como funcionam contra o cancro?

Tudo começa com as células T ou linfócitos T, um tipo de glóbulo branco cuja função é destruir células cancerígenas ou que tenham sido infetadas por qualquer tipo de vírus ou bactéria nociva. Através de modificações genéticas em laboratório, é possível fazer com que encontrem um determinado alvo terapêutico — a que se chama antigénio ou biomarcador — que esteja presente no tumor, mas que não seja identificado em qualquer outra célula saudável de forma a estas últimas saírem ilesas.

No início, são recolhidas células do doente com vista a uma análise compreensiva em busca destes biomarcadores, que são “sinais” no sangue, nos tecidos ou em qualquer parte do corpo afetada e que permitem saber mais sobre as características do tumor.

A partir daqui, passa a ser possível identificar os melhores alvos aonde dirigir os tratamentos com as células CAR T e, ao mesmo tempo, perceber que tipo de terapias podem ser administradas. Com a terapia CAR T, os tumores podem ser diretamente enfraquecidos, o que confere estabilidade ou até o fim dos sinais de doença dos pacientes.

“É um novo desafio em células T geneticamente manipuladas, para reconhecer determinados alvos no tumor”, explica a especialista em glicoimunologia e membro do grupo de investigação Paula Videira ao Observador. Neste preciso momento, Portugal ainda não tem a capacidade de produzir de forma autónoma este tipo de células, precisando de “ir buscar lá fora” para dar início à investigação. Contudo, ainda são precisas “formas de controlar melhor a ativação das células T”, ou seja, a resposta do sistema imunitário, continua a investigadora do UCIBIO. O objetivo é que essa resposta não seja “exacerbada”, “que também não é bom” — e “tentar ver moléculas que permitam perceber como controlar a atividade destes linfócitos”.

As células CAR T não são algo que “se possa guardar numa caixinha e vender na farmácia”, salienta Paula Videira. “Temos que ir buscar células T dos doentes, que são manipuladas geneticamente para ter um determinado recetor que vai reconhecer um determinado alvo no tumor”, acrescenta. Assim, o papel da equipa do UCIBIO é “identificar moléculas” que consigam melhorar esta terapia — “torná-la mais eficaz e com menos efeitos tóxicos”.

Esta é uma das maiores preocupações associadas a este tratamento com as células CAR T, esclarece a investigadora, indicando que antes de serem modificadas, servem “para matar outras células que estejam infetadas”. Neste projeto, o grupo vai “capacitá-las” para que reconheçam um antigénio (ou biomarcador) o mais específico possível para cumprir esse papel, vendo as possibilidades de “equilibrar a terapia para que seja eficaz”.

Uma grande dificuldade nesta investigação é a de obter biomarcadores que sejam amplos e representem uma grande porção da população que tem cancro. Por isso “neste projeto, estamos a começar um pouco por biomarcadores mais consensuais”, refere a especialista. Além disso, a “quantidade e qualidade” das células extraídas do doente também revelaram ser um desafio, uma vez que as células CAR T utilizadas para o tratamento “têm mesmo que ser do indivíduo, para evitar rejeição”, o que acaba por limitar a recolha.

observador

observador

Notícias semelhantes

Todas as notícias
Animated ArrowAnimated ArrowAnimated Arrow