Perspetivas para as eólicas arrefecem. Associação europeia não conta que Portugal instale offshore até 2030

A Europa vai continuar a assistir a uma expansão dos parques eólicos, embora menor do que aquilo que era estimado anteriormente por uma associação europeia da indústria, a WindEurope. Atrasos no licenciamento e na expansão da rede elétrica são dois dos motivos apontados. Contudo, há exemplos de aceleração como a Alemanha. Em Portugal, a associação prevê um aumento das instalações de energia eólica em terra, mas não conta que o país aumente a capacidade de eólico offshore até ao final da década.
A Europa ergueu 6,8 gigawatts (GW) de nova capacidade eólica na primeira metade de 2025, dos quais 89% foram instalados em terra (energia eólica onshore) e o restante no mar (energia eólica offshore). Assim, a Europa passou a contar 291 gigawatts de capacidade eólica, 254 GW em terra e 37 GW no mar, indica a WindEurope, num relatório em que faz o balanço da indústria com os dados recolhidos na primeira metade deste ano.
“A energia eólica onshore deverá constituir a maioria das instalações até 2030“, lê-se no relatório. A associação espera que sejam instalados 135 gigawatts desta energia entre este ano e 2030. Isto significaria que, tendo em conta parques que estão em final de vida, a Europa chegará a 2030 com 441 gigawatts.
A WindEurope é uma associação que representa a indústria eólica a nível europeu, e que conta mais de 600 membros com sede em cerca de 35 países, os quais vão desde empresas de toda a cadeia de valor até ao setor financeiro e segurador.
Atrasos com licenciamento e nas redes elétricas são particularmente desafiantes.
No panorama geral, “atrasos com licenciamento e nas redes elétricas são particularmente desafiantes” para a indústria, assim como uma taxa de eletrificação abaixo do esperado, aponta a associação. “Isto levou a uma revisão em baixa das perspetivas para a energia eólica onshore e offshore até 2030“, escreve a associação. A expectativa de 22,5 GW em 2025, avançada pela WindEurope no início do ano, reduziu-se para 19 GW.
“Menos capacidade eólica são más notícias para a competitividade da Europa“, remata o CEO da WindEurope, Giles Dickson. Ainda assim, a associação indica que as decisões finais de investimento na primeira metade de 2025 superaram o total do ano de 2024, atingindo os 34 mil milhões de euros, dos quais 22 mil milhões de euros referem-se a projetos offshores.
Alemanha em destaque. Portugal escorrega no offshoreO cenário difere consoante a geografia. Na Alemanha, destacada como caso positivo, as perspetivas melhoraram sobretudo dada a “atividade forte de licenciamento”, com as licenças a serem atribuídas dentro de 18 meses. Este país deverá contribuir com a instalação de 43 gigawatts até 2030. No comunicado que acompanha o balanço, a WindEurope salienta que o motor económico da Europa deverá erguer um total de 5 gigawatts só este ano, “mais do que o que foi construído nos últimos cinco anos” neste país.
Em oposição, as expectativas da associação em relação a Espanha, França, Suécia, Dinamarca e Itália arrefeceram. No caso de Espanha e Dinamarca, a ausência de leilões e os preços baixos de eletricidade decorrentes da larga instalação de potência solar, estão a afastar o potencial para a energia eólica. Também os preços baixos da eletricidade parecem estar a travar o investimento em energia eólica na Suécia, assim como taxas mais elevadas para o uso da rede. Em França, a ascensão das forças de extrema direita no Parlamento justificam atrasos e entraves, escreve a WindEurope.
Olhando a Portugal, a WindEurope prevê que, até 2030, sejam instalados um total de 2.340 megawatts, todos onshore. Assim, o país deverá atingir um total de 6.650 megawatts de capacidade eólica em terra, mantendo cerca de 25 megawatts no mar — o projeto da EDP ao largo de Viana do Castelo, em operação desde 2020, tem um total de 25 megawatts. No entanto, no primeiro semestre deste ano, terão sido instalados apenas 2 megawatts no país, indica o relatório.
Offshore treme, mas ainda cresceAs eólicas no mar têm-se deparado com alguns percalços, mas a tendência é ainda assim de crescimento, assinala a WindEurope. Nos cinco anos até 2030, a expectativa é que sejam instalados 43 gigawatts de capacidade, o que eleva a capacidade instalada de eólico offshore até ao final da década para um total de 80 GW. Uma grande parte da nova capacidade — 35 GW — diz respeito a projetos vencedores de leilões, os quais têm decisões de investimento já tomadas e contratos de construção e investimento fechados, pelo que a associação conta que estejam de pé nos prazos indicados. Outros 7 GW deverão ir a leilão nos próximos anos, indica a WindEurope.
Os governos europeus apontavam, no início de 2021, para uma meta de instalação de eólicas offshore de 114 GW, no conjunto da Europa. No final de 2022, reviram em alta o objetivo, para 158 GW. “Desde este pico, muitos governos nacionais têm recuado nos objetivos para 2030“, lê-se no relatório.
Isto porque, indica o texto, os governos precisam de mais tempo para estabelecer as linhas guia na regulação, melhorar o acesso à rede elétrica e desenvolver cadeias de fornecimento locais. A diminuição da procura por hidrogénio verde também terá prejudicado no caso de um projeto holandês. No Reino Unido, um projeto foi cancelado dadas as condições de financiamento “difíceis”, desafios logísticos e custos crescentes.
A associação faz ainda um levantamento dos leilões previstos entre 2025 e início de 2026, não fazendo qualquer menção ao leilão português. Alemanha, Reino Unido, França, Polónia, Dinamarca, Países Baixos e Lituânia são os países destacados pela WindEurope como tendo leilões previstos até ao final de 2025. Bélgica e Itália surgem como exemplos para 2026.
Questionado sobre a ausência de referência a Portugal, porta-voz da WindEurope afirma que a associação não crê que o leilão português vá acontecer ainda este ano, e acrescenta que, ainda que este avançasse até dezembro, seria improvável que os projetos vencedores estivessem construídos antes de 2030, o que justifica a ausência de estimativas para a instalação de capacidade eólica offshore nos próximos cinco anos. Na última versão do Plano Nacional de Energia e Clima, apresentada em meados do ano passado, o Governo comprometia-se a atingir uma capacidade de 2 gigawatts de eólico offshore até 2030.
No passado mês de abril, foi publicado em Diário da República um despacho no qual o Governo previa que as regras para o leilão de eólicas no mar português fossem definidas no prazo de seis meses, isto é, até outubro.
O Ministério do Ambiente e Energia afirma que os prazos definidos estão a ser cumpridos. “Até ao prazo estabelecido, serão divulgadas novidades sobre os princípios-base do leilão para o desenvolvimento da produção de energia eólica offshore“, garante ainda a tutela. Numa fase posterior, com base nos trabalhos realizados, proceder-se-á à elaboração das peças do procedimento concorrencial.
O presidente da APREN — Associação Portuguesa de Energias Renováveis, Pedro Amaral Jorge, reconhece em declaração ao ECO/Capital Verde que, uma vez que os projetos de eólico offshore têm geralmente uma maturidade de entre 7 a 9 anos, “não é expectável” que Portugal consiga atingir a meta de 2 gigawatts até 2030. Contudo, “o importante é que mesmo que nos desviemos do prazo, não nos desviemos da meta”, acredita, ao mesmo tempo que apela a que se criem as condições de mercado e de licenciamento.
ECO-Economia Online