Inferno em terra rainha levou o Sonho Americano de Lage

Começou mal, continuou em excelente forma. Naquela que podia ser uma descrição fiel à temporada 2024/25 do Benfica, o percurso lisboeta nos Estados Unidos começou da pior forma, já que, no jogo de estreia, as águias por 2-0 aos 30 minutos, diante do Boca Juniors. Ainda assim, as estrelas Nico Otamendi e Ángel Di María começaram a aparecer e, depois do empate (2-2), seguiu-se a goleada ao Auckland City (6-0). A fechar a fase de grupos, os encarnados só dependiam de si para marcar presença nos oitavos de final e acabaram por carimbar o apuramento em grande estilo, com a primeira vitória de sempre frente ao Bayern Munique, fruto do golo solitário de Andreas Schjelderup (1-0). Concretizado o primeiro objetivo, o foco estava agora em mais uma “besta negra” do continente europeu: o Chelsea.
Nos dias que antecederam a partida deste sábado em Charlotte, a cidade rainha, os temas de conversa nas hostes foram bastante distintos. Por um lado, a flash-interview de Bruno Lage no final da partida com os bávaros voltou a causar reboliço entre os adeptos, já que o técnico aludiu ao trabalho feito por todos — “presidente, diretor desportivo, treinador e jogadores” —, mas esqueceu-se… dos adeptos. Por outro lado, o capitão Otamendi renovou por mais uma temporada e, na conferência de imprensa de antevisão ao encontro, Lage assegurou que tinha mais um reforço garantido, prevendo-se que seja Amar Dedic, lateral-direito de 22 anos que pertencia ao Salzburgo. Enquanto a oficialização não chegava, o Benfica contava com o regresso de Álvaro Carreras para enfrentar os blues, bem como um recuperado Florentino Luís. Contudo, o goleador Vangelis Pavlidis estaria a acusar o desgaste da temporada e, de acordo com a imprensa desportiva, estava longe de estar a 100%.
Benfica-Chelsea, 1-4 (a.p.)
Oitavos de final do Mundial de Clubes
Estádio Bank of America, em Charlotte (Estados Unidos)
Árbitro: Slavko Vincic (Eslovénia)
Benfica: Anatoliy Trubin; Fredrik Aursnes (Tiago Gouveia, 85′), Nico Otamendi, António Silva, Samuel Dahl; Florentino Luís (Gianluca Prestianni, 70’), Orkun Kökçü (João Veloso, 85′), Leandro Barreiro; Ángel Di María, Andreas Schjelderup (Kerem Aktürkoglu, 46’) e Vangelis Pavlidis (Andrea Belotti, 70’)
Suplentes não utilizados: Diogo Ferreira; Leandro Santos, Gonçalo Oliveira, Adrian Bajrami, Álvaro Carreras, Joshua Wynder, João Rego, Diogo Prioste, Rafael Luís e Bruma
Treinador: Bruno Lage
Chelsea: Robert Sánchez; Reece James (Malo Gusto, 80’), Benoit Badiashile (Tosin Adarabioyo, 70’), Levi Colwill (Aaron Anselmino, 118′), Marc Cucurella; Moisés Caicedo, Roméo Lavia (Trevoh Chalobah, 86′); Pedro Neto, Enzo Fernández (Dewsbury-Hall, 80’), Cole Palmer; Liam Delap (Christopher Nkunku, 80’)
Suplentes não utilizados: Mike Penders, Gabriel Slonina; Mamadou Sarr, Josh Acheampong, Dário Essugo, Andrey Santos, Noni Madueke, Tyrique George e Marc Guiu
Treinador: Enzo Maresca
Golos: Reece James (64’), Di María (90+5′), Nkunku (108′), Pedro Neto (114′) e Dewsbury-Hall (117′)
Ação disciplinar: cartão amarelo a Pavlidis (50’), Caicedo (61’), Florentino (62’), Kökçü (82’), Dewsbury-Hall (90+2′), António Silva (90+5′), Prestianni (90+6′ e 91′), Palmer (92′), Colwill (101′) e Tiago Gouveia (120+1′), vermelho a Prestianni (91′)
“Temos uma enorme ambição de seguir em frente na prova. Sabemos que é difícil, mas não é impossível. É um jogo e, neste momento, temos um conhecimento profundo da forma como o Chelsea joga. E, uma vez mais, sinto que preparámos o jogo muito bem. Por isso pomos em campo tudo aquilo que são as nossas forças e a nossa qualidade. O jogo com o Flamengo é importante, também, para perceber como é que a equipa se comporta — temos analisado estes jogos do Mundial — nas condições climatéricas em questão, porque realmente isso muda, ligeiramente, a intensidade do jogo. Por isso o jogo foi visto nessa perspetiva. Maresca? Fez um trabalho fantástico no Leicester. Teve a chance de trabalhar num grande clube. O mais importante não é o orçamento que ele tem, mas o tempo que tem para construir a equipa forte que quer. Venceu uma competição internacional e para ganhar a Premier League é preciso ter o momento, e para ter o momento é preciso tempo. Ele sabe como pode melhorar a equipa”, anteviu Lage.
Only one can move on to the #FIFACWC Quarter-finals…
Who will reign supreme in the Queen City? ???? pic.twitter.com/MYl7YM9zyq
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Para este jogo com história e que marcou o reencontro entre o emblema português e Enzo Fernández, Bruno Lage manteve Samuel Dahl no onze e voltou a contar com Florentino Luís e Orkun Kökçü, com Álvaro Carreras a sentar-se no banco de suplentes, assim como Gianluca Prestianni. Renato Sanches ficou fora da ficha de jogo, por precaução, segundo o treinador. Pavlidis também continuou na equipa, contrariando as previsões. Nos blues, Enzo Maresca manteve o 4-2-3-1, com Reece James, Benoit Badiashile, Levi Cowill e Marc Cucurella a jogar à frente de Robert Sánchez, Moisés Caicedo, Enzo e Roméo Lavia no miolo, e Cole Palmer, Pedro Neto e Liam Delap no ataque. Dário Essugo começou no banco.
Num Estádio Bank of America longe da lotação esgotada, o técnico português justificou à DAZN Portugal a utilização do sueco no lado esquerdo da defesa com a sua exibição frente ao Bayern, e o primeiro minuto do desafio chegou para perceber que a intenção dos ingleses passava por atacar por aquele lado, com Neto a ganhar a Dahl no duelo físico e a atirar para uma defesa a dois tempos de Anatoliy Trubin (1′). Essa incursão serviu de aviso e, a partir daí, os encarnados tiveram uma toada de ligeiro crescimento no desafio, dispondo de mais bola e de algumas chegadas perigosas ao último terço. Ainda assim, o Chelsea reagiu bem e voltou ao comando da partida. Num lance em que Florentino perdeu para Lavia a meio-campo, Cucurella driblou Leandro Barreiro e atirou para o golo, só que António Silva apareceu a fazer de Trubin e cortou com a cabeça em cima da baliza (20′). Na jogada seguinte foi a vez de Palmer testar o ucraniano, que voltou a levar a melhor (20′).
Que corte de António Silva ????
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Depois da habitual paragem para os jogadores se hidratarem — já que esteve mais um dia com os termómetros acima dos 30ºC em Charlotte —, os ingleses continuaram por cima e, depois de Barreiro perder para Caicedo, o posicionamento subido de Fredrik Aursnes quase foi aproveitado na perfeição por Cucurella que, servido por Lavia, desferiu um remate forte para mais uma grande parada de Trubin (38′). A partir daí, Lage reagiu no banco e baixou o posicionamento de Ángel Di María, que passou praticamente a alinhar com a linha defensiva. Nos últimos minutos, a superioridade londrina continuou, mas as ocasiões não voltaram a aparecer e, ao intervalo, o nulo até podia servir de consolo à equipa de Bruno Lage (0-0).
Ao intervalo, o adjunto Luís Nascimento pedia intensidade e, para o segundo tempo, a equipa técnica encarnada decidiu lançar Kerem Aktürkoglu no lugar de Schjelderup, mas a primeira ocasião de golo voltou a pertencer aos ingleses, com Caicedo a rematar de longe ao lado (49′). Os ingleses continuaram a dominar o jogo ao seu jeito, ao passo que as águias mantiveram-se sem conseguir atacar, mas quase surpreenderam através de um cruzamento de Aursnes que saiu muito chegado à baliza e quase entrou, obrigando Sánchez a agarrar em cima da linha (57′). Pouco depois, em mais uma jogada em que Florentino comprometeu, cometeu falta e viu amarelo, Reece James assumiu a cobrança do livre na esquerda, atirou diretamente para a baliza e a bola entrou mesmo na baliza, com Trubin a ficar a meio caminho e a deixar o poste direito descoberto (64′).
Reece James a abrir o marcador
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Depois do golo inaugural, Lage colocou Gianluca Prestianni e Andrea Belotti em campo, nos lugares de Florentino e Pavlidis — que saiu muito desgastado —, voltando ao 4-2-3-1. Maresca também foi forçado a mexer, com Badiashile a lesionar-se e a ser rendido por Tosin Adarabioyo. Certo é que o Benfica subiu as linhas, assumiu o jogo e passou a jogar no meio-campo adversário, mas pouco perigo criou, com Prestianni a ter nos pés a melhor oportunidade, mas a pecar no momento da finalização, em zona perigosa (78′). Na resposta, Delap dilatou a vantagem, mas estava em fora de jogo (80′). Maresca aproveitou, então, para refrescar a equipa com as entradas de Malo Gusto, Dewsbury-Hall e Christopher Nkunku, com Tiago Gouveia e João Veloso a serem opções nas águias. Logo a seguir à alteração, a cerca de cinco minutos do minuto 90, uma trovoada levou à interrupção do desafio.
A partida foi reatada praticamente duas horas depois, com a entrada de Trevoh Chalobah e, como seria de esperar, o Benfica teve uma entrada afirmativa, com as linhas muito subidas e a tentar o tudo por tudo em busca do prolongamento. Na sequência de um livre, os encarnados aproveitaram o adormecimento londrino e, depois de um cabeceamento de Otamendi, Gusto cortou com o braço e Slavko Vincic, após ver as imagens do lance, assinalou o castigo máximo. Na cobrança, Di María voltou a não desperdiçar e adiou a sua última partida de águia peito, atirando o jogo para o prolongamento (90+5′).
Empata Di Maria ????
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O tempo extra começou da pior forma para o conjunto português que, com poucos segundos jogados, ficou reduzido a 10, com Prestianni a ver o segundo amarelo depois de ter chegado tarde a uma disputa de bola com Colwill (91′). Apesar da desvantagem numérica, o Benfica continuou a criar perigo e, depois de uma recuperação de Veloso, Belotti trabalhou bem e serviu Aktürkoglu que, à entrada da área, atirou para as mãos de Sánchez (96′). O jogo continuou partido e, depois de combinar com Cucurella, Palmer teve espaço dentro da área e atirou para defesa de Trubin (104′), com Di María a rematar para as mãos de Sánchez na resposta (105′). Como no melhor pano cai a nódoa, os blues chegaram ao golo em mais lance em que o guarda-redes ucraniano ficou mal na fotografia e que começou numa perda de bola de Barreiro. Palmer recuperou, serviu Caicedo para o remate, a bola passou por baixo do corpo de Trubin e chegou a Nkunku que, à segunda, depois de Otamendi cortar em cima da linha, atirou para o segundo (108′).
Prestianni é expulso
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Nkunku volta a colocar os Blues na frente
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Com o Benfica a apostar tudo no ataque, o espaço começou a aparecer nas costas da defesa e o Chelsea aproveitou para dar as estocadas finais: Di María perdeu a bola na saída para o ataque e permitiu a Pedro Neto isolar-se e atirar para o 1-3 (114′), com Dewsbury-Hall a completar a goleada três minutos depois, em mais um lance em que os blues atacaram bem o espaço (117′). Assim, o Benfica despediu-se da competição, com o Chelsea a medir forças com o Palmeiras nos quartos de final.
Pedro Neto a fazer o terceiro
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A pérolaDewsbury-Hall fecha as contas
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- Decisivo no ataque e imperial na defesa, Reece James foi a grande figura deste Benfica-Chelsea. O capitão dos blues ajudou a “secar” o lado esquerdo dos encarnados e raramente foi batido por Samuel Dahl, Andreas Schjelderup ou Kerem Aktürkoglu. No ataque, ficou ligado ao primeiro golo da partida, ao surpreender na cobrança de um livre direto, num lance em que tinha pouco ângulo e decidiu arriscar, terminando em felicidade.
- O que dizer deste Campeonato do Mundo de Clubes de António Silva? Não foi por ele que o Benfica foi eliminado frente aos ingleses, bem pelo contrário. Na primeira parte, o defesa português salvou a sua equipa em diversas ocasiões, com o corte com a cabeça, praticamente em cima da baliza, a ficar na retina. A par de Nico Otamendi, ajudou a travar Liam Delap. Foi dos melhores frente ao Bayern Munique, repetiu-o com o Chelsea e voltou a dar boas indicações depois de ter sido bastante questionado ao longo da época.
- As contas são simples e ditam a eliminação do Benfica nos oitavos de final deste Mundial de Clubes. Por seu turno, o Chelsea segue para os quartos de final e vai agora medir forças com o Palmeiras, de Abel Ferreira. No que às águias diz respeito, terminou este sábado a temporada 2024/25, com 60 jogos realizados, distribuídos por cinco competições. Ao todo, os encarnados terminaram a época com apenas um troféu conquistado: a Taça da Liga.
- Depois de uma partida muito aquém, com apenas uma oportunidade de golo e um cruzamento-remate à baliza, a paragem de duas horas acordou o Benfica para os cinco minutos finais e acabou por traduzir-se no golo do empate. Foi a sétima vez neste Mundial de Clubes que um jogo foi interrompido devido às condições climatéricas, algo que a FIFA terá de ter em conta para o Mundial do próximo ano. Este jogo não precisava de duas horas para se tornar emocionante, ainda que os encarnados tenham sido os principais beneficiados desse fator.
observador