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Café caro? Resposta vai além da inflação

Café caro? Resposta vai além da inflação

Basta ser um consumidor frequente de café para perceber que os preços nas prateleiras dos supermercados têm subido nos últimos meses. No caso do café em pó, por exemplo, quase que seria possível comprar duas embalagens no ano passado com o preço que este ano consegue comprar apenas uma.

Os dados da Deco Proteste mostram que, o preço do café torrado moído aumentou 87 cêntimos na semana passada, e uma embalagem com 250 gramas já custa quase cinco euros. Só este ano, o preço deste produto já subiu 28%. No início deste ano, o preço do café torrado moído custava 3,81 euros. Desde então, já aumentou 1,05 euros (mais 28%). Há um ano, a mesma embalagem de café torrado moído custava menos 1,59 euros (menos 49%) e a 5 de janeiro de 2022 menos 1,86 euros (menos 62%).

Mas a que se devem estes preços? Ao Nascer do SOL, Vítor Madeira, analista da XTB, defende que as razões são várias, «com principal destaque para a inflação geral», lembrando que os custos para as empresas «têm vindo a subir significativamente», dando destaque a preços das rendas, salários, eletricidade, maquinaria, custos de transporte, entre outros. «Posteriormente, o café teve grandes subidas nos mercados internacionais ao longo do último ano e no início de 2025, derivados de redução da oferta e aumentos de procura», adianta o analista.

Mas o caso está a mudar de figura e , nesta altura, «o café tem estado em queda nos mercados internacionais, tendo já depreciado mais de 30% desde o pico do início deste ano, o que demonstra que do lado da matéria-prima não haveria razões para o preço continuar a subir ao consumidor final». Mas diz que «as empresas podem estar a gastar stocks anteriores que foram comprados com preços muito mais elevados e tentam passar esse aumento de preços para o consumidor final, num contexto de subidas generalizadas dos preços da maior parte dos bens e serviços».

Em resumo, Vítor Madeira adianta que «estas subidas observadas atualmente ainda resultam dos efeitos das políticas monetárias adotadas pelos principais bancos centrais (BCE e Reserva Federal) durante o período da pandemia covid-19, que conduziram a momentos de hiperinflação (2021-2022) e cujos impactos ainda se fazem sentir nos dias de hoje».

Paulo Monteiro Rosa, economista do Banco Carregosa, defende que estes aumentos estão relacionados com uma combinação de fatores tanto globais como nacionais.

Ao nosso jornal, explica que, a nível internacional, «a redução da oferta devido a condições climáticas extremas nos maiores produtores mundiais, como o Brasil e o Vietname, são um dos principias fatores por detrás do aumento do preço do café», destacando problemas como secas severas, geadas e inundações que afetaram colheitas e reduziram os stocks globais. Além disso, acrescenta, «o aumento dos custos de transporte marítimo e dos fertilizantes, agravado por conflitos geopolíticos, têm contribuído para o encarecimento em toda a cadeia de fornecimento».

Já em Portugal, o aumento do preço do café «deve-se sobretudo à transferência dos custos mais elevados no mercado internacional para o consumidor final português. Dificuldades de produção nos principais países exportadores e a subida dos custos logísticos têm pressionado o preço global». E fala também da inflação generalizada e os custos de energia e transporte que «contribuem para agravar a situação».

Portugal importa a totalidade do café que consome, e a subida nos mercados internacionais tem-se refletido em aumentos no retalho e na restauração, acabando por chegar ao consumidor final. Esta escalada levou a Deco Proteste a alertar para subidas consecutivas do preço do café.

E nos outros países?

Vítor Madeira explica que «existem relatos semelhantes noutros países, provavelmente pelas mesmas razões, dado que as políticas monetárias dos bancos centrais e o preço das matérias-primas são praticamente idênticos».

Já Paulo Monteiro Rosa atira que, como o café é uma commodity agrícola negociada nos mercados internacionais, «os aumentos resultantes das quebras de produção e dos custos logísticos elevados afetam todos os mercados de consumo». No entanto, diz ainda, «a intensidade da subida varia consoante fatores como taxas de câmbio locais, fiscalidade e margens praticadas no retalho e na restauração em cada país». E, como o café é cotado na moeda norte-americana, «na Zona Euro, por exemplo, a desvalorização do dólar em relação ao euro de cerca de 13% desde o início do ano tem atenuado o impacto para os importadores europeus, mas ainda assim os preços para o consumidor continuam a subir».

E de futuro?

Questionado sobre a possibilidade de este produto tão consumido pelos portugueses continuar a aumentar nos próximos tempos, o analista da XTB diz que «sim, tal como como acontece com todos os outros produtos num contexto de inflação». No entanto, acrescenta, «tendo em conta os preços nos mercados internacionais, é possível que o preço deste produto aumente menos do que os restantes, uma vez que o mercado se ajusta aos novos preços dos mercados financeiros». Além disso, Vítor Madeira explica ainda que «a inflação geral já deu sinais de abrandamento, ainda que de forma muito lenta».

Já o economista do Banco Carregosa defende que mais aumentos «vão depender muito da evolução da produção dos maiores produtores de café a nível global» e que vai depender, sobretudo, das condições climáticas nas principais regiões produtoras, como o Brasil e o Vietname, «que ainda enfrentam riscos de fenómenos extremos». Além disso, «a procura global mantém-se elevada, com destaque para o crescimento do consumo em mercados emergentes». Por outro lado, «a recente desvalorização do dólar e alguma normalização dos custos logísticos podem ajudar a conter novas subidas», finaliza Paulo Monteiro Rosa.

Jornal Sol

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