Bancos pouco expostos à dívida francesa e inglesa e desvalorizam risco

Os bancos portugueses e a Fitch, contactados pelo JE, desvalorizam a existência de um risco soberano nas economias francesa e inglesa. A exposição da banca portuguesa é residual. O que é certo é que a subida das yields nos prazos nas obrigações europeias disparou alarmes nos mercados.
“Os juros soberanos de longo prazo voltaram a níveis não vistos desde a crise de 2011, refletindo receios com a sustentabilidade das contas públicas na Europa. A instabilidade política em França foi o catalisador imediato, mas o movimento rapidamente alastrou a outros mercados, incluindo o Reino Unido, onde a yield a 30 anos atingiu 5,74%, o valor mais alto desde 1998”, a frase é de Henrique Valente, analista da ActivTrades.
Este é o contexto em que o Jornal Económico perguntou aos bancos e à Fitch sobre o real risco que representa a subida das yields das economias tradicionalmente mais desenvolvidas da Europa.
Na resposta, os bancos portugueses mostraram-se céticos quanto a um bail-out de França ou do Reino Unido, mas ressalvaram que a exposição dos bancos aos títulos do tesouro destes países é residual.
“Se a França entrar em default, o problema não será a dívida pública. O euro e o projeto europeu ficariam em risco, mas não creio de todo que tal vá acontecer”, disse um dos banqueiros.
“Bail-out, acho que nunca vai acontecer num país grande”, diz outro CEO de um dos maiores bancos.
O BPI foi o único que deu detalhes, dizendo que a sua carteira de dívida é relativamente baixa, com prazos curtos e centrada em Portugal e Espanha.
Por sua vez, a Fitch, questionada sobre o risco, disse: “não posso comentar o risco de descida da notação soberana ou o impacto nos restantes bancos da UE. O que posso dizer é que a exposição dos bancos portugueses à dívida soberana francesa continua limitada, embora a exposição à dívida soberana em euros (exceto Portugal) esteja de facto a aumentar”.
A Fitch salienta que não há uma discussão sobre um eventual resgate financeiro, tendo em conta o nível de rating atual, pelo que é difícil avaliar o impacto de um potencial resgate financeiro em cada banco.
As yields das obrigações do Tesouro de França e do Reino Unido atingiram máximos históricos, enquanto Portugal destaca-se pela sua resiliência e pelo diferencial mínimo de taxas de juro face à Alemanha.
O primeiro-ministro francês, François Bayrou, anunciou que, em 8 de setembro, submeterá o seu governo a um voto de confiança na Assembleia Nacional, na sequência da sua declaração de política geral sobre as orientações orçamentais.
O impasse centra-se no orçamento de 2026, que prevê cortes de 44 mil milhões de euros para reduzir o défice de 5,8% do PIB para 4,6%.
Se a moção for rejeitada, o que acontece pela primeira vez na Quinta República, o governo será obrigado a demitir-se. Dado o atual impasse parlamentar, uma dissolução da Assembleia Nacional pareceria então inevitável, aumentando o risco de mergulhar o país no mesmo impasse político e atrasando ainda mais a elaboração do orçamento para 2026.
Isto pode significar o descarrilar da trajetória de redução da dívida da França. A corretora XTB diz que as OT francês a 10 anos já se aproximam dos 3,58%, um nível de resistência técnica, para além do qual poderia ocorrer um aumento descontrolado dos rendimentos, numa altura em que se prevê que o serviço da dívida se torne a maior rubrica orçamental do Estado até 2027.
A XTB diz que o cenário mais esperado pelos mercados continua a ser o de uma rejeição da confiança, que desencadearia a demissão do governo, seguida da dissolução da Assembleia Nacional e de novas eleições. No entanto, um tal resultado daria início a um período prolongado de incerteza.
As yields das obrigações do Tesouro de França e do Reino Unido atingiram, nos últimos dias, máximos históricos, enquanto Portugal destaca-se pela sua resiliência e pelo diferencial mínimo de taxas de juro face à Alemanha. Esta terça-feira, as yields das obrigações francesas a 30 anos atingiram os 4,5%, o nível mais elevado desde 2009. Mas esta quarta-feira as yields das obrigações de longo prazo mostraram sinais de estabilização.
Nem a Alemanha, tida como o refúgio europeu, está a escapar à pressão dos investidores. As yields das obrigações alemãs a 30 anos chegaram a tocar esta terça-feira máximos de 14 anos, nos 3,42%, enquanto os títulos a 10 anos – referência para a zona euro – subiram para 2,799%, renovando máximos de março.
No Reino Unido, a situação mostra-se ainda mais complicada, já que as yields das obrigações britânicas (Gilts) a 30 anos dispararam para 5,69%, o valor mais elevado desde 1998, com os mercados a avaliarem as reformas governamentais da ministra das Finanças, Rachel Reeves.
Matthew Amis, Diretor de Investimentos de Gestão de Taxas da Aberdeen, sobre as recentes movimentações dos títulos a 30 anos nos Mercados Soberanos do Reino Unido, diz que “embora gere grandes manchetes, a movimentação dos rendimentos dos títulos do governo nos últimos dias tem estado, em grande parte, alinhada com outros mercados. Os rendimentos dos títulos globais estão a subir e o Reino Unido está a acompanhar a tendência”.
“A verdadeira história para o Reino Unido deve ser que o DMO (Debt Management Office) do Reino Unido conseguiu sindicar 14 mil milhões de libras em títulos do Governo a 10 anos, um valor recorde”, acrescenta.
A Aberdeen destaca que “os mercados obrigacionistas estão em alerta máximo para o orçamento de outono, e a especulação constante sobre as propostas fiscais está longe de ser útil, mas, por enquanto, o Reino Unido não é um caso isolado nos mercados obrigacionistas globais”.
Esta quarta-feira, as yields das obrigações de longo prazo mostraram sinais de estabilização. A dívida alemã a 10 anos cai 4,75 pontos base para 2,74%. O Reino Unido regista uma correção de 5,24 pontos base para 4,75%. Já a dívida francesa recua 4,21 pontos base para 3,54%. Portugal tem os juros a caírem 5,23 pontos base para 2,18% e Espanha os juros corrigem 5,27 pontos base para 3,25%.
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