Leituras do roque no gabinete de Gustavo Petro
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Enquanto se aguarda a confirmação oficial da chegada de Armando Benedetti ao Ministério do Interior e as versões de outros movimentos, Susana Muhamad ao DNP e Alexander López à chefia do gabinete, as pessoas já começam a falar sobre o impacto de todos esses movimentos. As posições vão desde críticas e recepção positiva à nova nomeação do questionado ex-embaixador até questionamentos sobre um governo que apostou no roque de suas figuras mais reconhecidas.
O assunto mais comentado é, sem dúvida, o de Armando Benedetti como Ministro do Interior, tema que vem sendo discutido desde o final da semana passada. Os rumores ganharam força desde sábado e muitas pessoas acreditam que seja um fato. Ele teria ficado no cargo por apenas três semanas e, a partir daí, teria exercido as funções de "ministro sombra do Interior", como as diversas reuniões com as facções parlamentares.
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Susana Muhamad na reunião televisada do gabinete. Foto: Presidência
A possível nomeação de seu interlocutor mais direto no Governo levou o Congresso a assumir posições opostas. A oposição e os setores independentes manifestaram veementemente sua oposição ao possível sucessor de Juan Fernando Cristo. No entanto, no Pacto Histórico, cujas figuras inicialmente criticaram Benedetti, eles foram mais receptivos.
“Benedetti ser Ministro do Interior é um golpe muito baixo do Presidente Petro para as mulheres, para a luta contra a corrupção e para a promessa de mudança”, disse a Deputada Catherine Juvinao, que então lembrou que durante a campanha o presidente levantou a bandeira feminista e agora dá seu total apoio a uma figura que foi acusada de casos de violência machista.
Órgãos de controle como a Ouvidoria também adotaram essa posição. Iris Marín, chefe da organização, descreveu a decisão como "inconveniente e desrespeitosa". Ela lembrou que Benedetti foi acusado de violência contra mulheres e suposta corrupção.
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Alexander López, ex-diretor de Planejamento Nacional Foto: Presidência
No entanto, o Pacto Histórico e algumas pessoas próximas ao Governo optaram por uma posição mais pragmática. Senadores que viajaram para a Cidade do México, que pediram para permanecer anônimos, relembraram sua amizade com Benedetti e expressaram sua disposição de falar com ele sobre esse assunto.
No Pacto Histórico eles enfatizaram essa condição de proximidade com o Senado para justificar sua chegada. Embora tenham dito que não concordam com sua nomeação, eles a defenderam e apontaram os resultados que o questionado ex-senador pode trazer para a agenda do governo.
“Armando Benedetti pode estreitar relações com outros partidos no Senado da República para avançar nas reformas”, disse Heráclito Lándinez, representante do Pacto Histórico. Gustavo Bolívar, que foi um dos que inicialmente se opuseram à presença de Benedetti no gabinete, tinha posição semelhante.
O diretor do Departamento de Prosperidade Social (DPS) destacou os esforços que Benedetti fez desde que assumiu o cargo de chefe de gabinete e enfatizou suas habilidades como operador político.
Analistas destacaram essas condições como a força motriz por trás dos anúncios feitos nos últimos dias. Para o professor Jorge Iván Cuervo, da Universidade Externado, a questão é uma grande aposta do presidente Gustavo Petro na capacidade de Benedetti de interagir com o Congresso. No entanto, ele também descreveu a mudança como arriscada "por causa da resistência que Benedetti enfrenta no país como operador político devido a suas questões éticas e processos criminais".
Outro ponto destacado é que a nova nomeação pode ser lida como uma forma de reatar relações com o setor de esquerda que se distanciou durante a reunião ministerial televisionada. Segundo Yann Basset, “com a saída dos ministros de esquerda poderíamos pensar que se buscava um governo com um perfil mais executivo, mas agora com a saída de Benedetti vemos um equilíbrio”.
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Armando Benedetti foi embaixador e chefe de gabinete neste governo. Foto: Presidência
Cuervo complementou essa posição destacando que essa reorganização teria a ver com a retirada de Armando Benedetti de um cargo muito próximo ao presidente para atender perfis como Susana Muhamad e Alexander López. Ambos haviam renunciado em caráter irrevogável, com sérios aborrecimentos de Gustavo Petro, mas agora estariam de volta ao gabinete após saberem que o papel do ex-senador não estará tão próximo deles.
As razões para o roque Além das polêmicas sobre Benedetti, também se chamou a atenção o roque que se tornou habitual nesta administração. Em diversas ocasiões, o presidente pediu a renúncia de alguns funcionários e logo os reciclou em outros departamentos: Laura Sarabia, Armando Benedetti, Cielo Rusinque, entre outros perfis, aparecem na lista.
Para Basset, esses movimentos se devem ao fato de que “essa reorganização é muito complicada e trabalhosa. Como tudo neste governo, é feito aos poucos e pode ser confuso e contraditório.”
Para Gonzalo Araujo, da empresa de análise Orza, a leitura é diferente, e ele ressalta que neste caso é uma aposta segura. “Petro consolida seu gabinete para o último trecho, o mais difícil. "Ele faz isso com a ajuda de figuras emblemáticas do seu projeto político", disse o especialista.
As mudanças também podem estar relacionadas à tendência do presidente de usar os mesmos perfis. Basta olhar para o seu gabinete na prefeitura de Bogotá para ver reincidentes na atual administração nacional. Diante das dificuldades em construir pontes com outros setores, o presidente estaria reciclando perfis que já demonstraram proximidade em seus primeiros cargos no Executivo.
"Esses roques demonstram o círculo limitado de confiança que o Presidente Petro tem. Em vez de explorar e buscar nomes fora do Pacto Histórico e de outras correntes, ela busca aqueles nomes que a acompanharam e que têm afinidade com ele", disse Patricia Muñoz, professora e diretora de pós-graduação em ciência política da Universidade Javeriana.
No entanto, essa tendência gera dúvidas em alguns setores, que questionam se perfis nomeados para determinados cargos retornam posteriormente para departamentos completamente diferentes.
Veja mais: 
Discurso do deputado Heráclito Landinez. Foto:
Juan Sebastián Lombo Delgado
eltiempo