O atraso na mão de obra pode custar à Colômbia US$ 450 bilhões até 2030.

As cidades com maior informalidade foram Sincelejo (66,2%) e Cúcuta (65,8%).
A falta de progresso no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, especialmente o Objetivo 8, que se concentra na promoção do trabalho decente, está colocando o país em risco de perdas econômicas e de produtividade, resultando em bilhões em perdas para a economia.
Esta é uma das conclusões do mais recente relatório apresentado pelo Conselho de Segurança da Colômbia (CCS), durante o 58º Congresso de Segurança, Saúde e Meio Ambiente, que revela que as perdas acumuladas pelo não cumprimento desta meta podem chegar a US$ 450 bilhões até 2030.
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O cálculo se baseia em uma dupla defasagem estrutural: de um lado, a estagnação da produtividade do trabalho, representando uma perda potencial de US$ 243 bilhões; e, de outro, a alta informalidade do trabalho, cujo impacto na economia é estimado em US$ 207 bilhões. Ambos os números se somam a um cenário de inércia econômica alarmante, que ameaça não apenas o crescimento do PIB, mas também a capacidade do governo de investir em educação, saúde, infraestrutura e proteção social.
Para melhor compreender esse panorama, é importante destacar que um dos pilares do ODS 8 é atingir um crescimento anual de 3% no PIB por pessoa empregada, meta que reflete o compromisso de modernizar a economia, adotar tecnologias e promover setores de alto valor agregado. No entanto, entre 2015 e 2023, o crescimento médio foi de apenas 1,57% ao ano, segundo dados do banco de dados regional dos ODS na América Latina.

Mercado de trabalho na Colômbia.
Imagem gerada com Inteligência Artificial - ChatGPT
Da mesma forma, com base em informações do DANE (Banco Nacional de Desenvolvimento), o estudo estima que, até 2024, a Colômbia terá um PIB de US$ 1,7 trilhão e uma população empregada de 23,3 milhões, o equivalente a US$ 72,96 milhões de pesos por trabalhador por ano. Manter essa tendência até 2030 deixaria o país aquém da meta, deixando de gerar US$ 243 bilhões em valor agregado acumulado.
"Essas perdas representam menos recursos disponíveis para investimento social, desenvolvimento produtivo e melhorias na qualidade do emprego, comprometendo assim o progresso do país em direção a um crescimento econômico inclusivo e sustentável", alertou Adriana Solano Luque, presidente executiva do CCS.
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Um fardo milionárioO segundo componente da análise diz respeito à persistente informalidade do trabalho. Embora o país tenha estabelecido a meta de atingir 60% de emprego formal até 2030, dados do primeiro trimestre de 2025 mostram que a taxa mal chega a 43,2%. Isso significa que aproximadamente 3,9 milhões de trabalhadores precisariam formalizar seu emprego nos próximos cinco anos para atingir a meta.
Mas, além do atraso social, a informalidade também é um problema econômico fundamental, já que o CCS utilizou uma estimativa do Banco da República, segundo a qual o trabalho informal pode reduzir a produtividade em até 29%. Ao comparar esse número com o PIB per capita atual, o estudo projeta que, se a informalidade persistir, o país perderá US$ 207 trilhões em produção entre 2025 e 2030.

Informalidade e mercado de trabalho.
Imagem gerada com Inteligência Artificial - ChatGPT
Nesse sentido, Adriana Solano afirmou que "a falta de emprego formal também limita a arrecadação de impostos e parafiscais, afetando o financiamento de bens públicos essenciais. A informalidade implica em menor contribuição para a arrecadação de impostos e parafiscais, o que limita a capacidade do Estado de financiar saúde, educação, infraestrutura e proteção social". O relatório também revela que a informalidade não é distribuída uniformemente e que o problema se concentra em unidades produtivas menores, com foco em dados do Instituto Nacional de Estatística (DANE) que revelam que, até 2025, apenas 14,6% dos empregados em microempresas estarão formalmente empregados, em comparação com 79,9% nas pequenas empresas, 94,3% nas médias empresas e 97,4% nas grandes empresas.
Esses dados evidenciam o desafio estrutural de fortalecer o tecido empresarial das micro e pequenas empresas, onde se concentra o maior volume de empregos, mas também onde se encontra a maior lacuna na formalização. É aqui que as políticas públicas devem se concentrar se quisermos reverter essa tendência.
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Nota fiscalO CSS explicou que a consequência direta do não cumprimento do ODS 8 não é apenas econômica, mas também fiscal. A perda de produtividade e a manutenção de altos níveis de informalidade limitam o crescimento potencial do país, prejudicam o dinamismo do mercado interno e reduzem sua capacidade de arrecadação de impostos. Esse triplo impacto impacta diretamente a sustentabilidade dos gastos públicos e compromete o financiamento do investimento social.
O estudo conclui que a Colômbia não só está falhando em gerar riqueza, mas também está perdendo oportunidades estruturais de equidade, especialmente entre populações vulneráveis, como mulheres, jovens, trabalhadores rurais e pessoas com deficiência, que são as mais afetadas pela informalidade.

Informalidade
Arquivo privado / El Tiempo
Diante dessa situação, o Conselho de Segurança da Colômbia propõe uma estratégia abrangente que combina parcerias público-privadas, inovação, uma abordagem diferenciada e o fortalecimento das MPMEs. Uma das primeiras ações necessárias é a ratificação da Recomendação 204 da OIT, que promove a transição da economia informal para a formal e que, embora adotada em 2015, ainda não foi oficialmente incorporada pelo país.
A entidade também propõe a promoção de incentivos fiscais e programas de cofinanciamento, voltados especificamente para empresas que geram emprego decente, equitativo e garantido para populações tradicionalmente excluídas, como mulheres, jovens e pessoas com deficiência. Ao mesmo tempo, recomenda o incentivo à criação e formalização de micro, pequenas e médias empresas, apoiando-as com programas de capacitação técnica, tecnológica e profissional que fortaleçam suas capacidades e sustentabilidade.
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Outro foco importante é incorporar uma abordagem diferencial e interseccional em todas as políticas de formalização para abordar barreiras específicas enfrentadas por comunidades rurais, grupos étnicos e pessoas com deficiência.
Por fim, na esfera empresarial, o CCS sugere o fortalecimento das cadeias de suprimentos que conectam grandes empresas com MPMEs por meio de transferência de tecnologia, boas práticas trabalhistas, inovação e treinamento contínuo, aumentando assim a produtividade e o trabalho decente em toda a cadeia de valor.

Nas áreas urbanas, segundo o Banco da República, a informalidade cresceu mais rapidamente.
Maria Camila González
“Essas ações devem ser acompanhadas de processos contínuos de avaliação que permitam mensurar o impacto real das estratégias implementadas, ajustar eficientemente os recursos e garantir uma melhor coordenação entre o Estado, o setor empresarial, os sindicatos, a academia e os trabalhadores”, concluíram.
O Conselho de Segurança da Colômbia alertou que o tempo está se esgotando para o país e, se decisões urgentes e coordenadas não forem tomadas, a Colômbia não apenas deixará de cumprir o ODS 8, mas também aprofundará as desigualdades estruturais que impedem seu desenvolvimento.
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