Como o dólar se sairá em uma semana com vencimento de superdívida?

Com o dólar se valorizando quase 4% nas quatro primeiras sessões de julho, o início do segundo semestre do ano pode marcar uma reviravolta no programa cambial, que visa sustentar a desinflação pelo menos até as eleições de outubro. Enquanto a City prevê maior volatilidade, o governo se prepara para esta semana para duas datas importantes: de um lado, o pagamento de mais de US$ 4 bilhões de uma dívida dos detentores de títulos; de outro, o "fim do LEFI", em antecipação a um novo esquema monetário.
Na sexta-feira, o dólar fechou em US$ 1.260 nas telas de câmbio do Banco Nación. Isso representa um novo recorde para a taxa de câmbio oficial, mas também a primeira vez que o preço do dólar americano ultrapassou o "meio da faixa" — entre US$ 1.000 e US$ 1.400 — imposto pela equipe econômica de Luis Caputo após a suspensão dos controles cambiais.
O economista Fernando Marull observou: "O dólar ganhou destaque, com o aumento da demanda do mercado já incorporando o aumento da oferta agrícola nas próximas três semanas, o pagamento dos títulos em 9 de julho, mas também taxas de juros mais baixas nos próximos dias. Assim, o dólar oficial subiu para US$ 1.230 e o CCL para US$ 1.240, acima da faixa intermediária de US$ 1.205, pela primeira vez desde abril."
Nesta quarta-feira, o Tesouro Nacional deve pagar US$ 4,2 bilhões. "O valor que o Governo pagará é explicado principalmente pelos vencimentos do AL30 (US$ 1,09 bilhão) e do GD30 (US$ 1,132 bilhão), que devolvem US$ 8 de principal a cada 100 títulos aos seus detentores", detalhou a GMA Capital em relatório. Não há tensão no mercado em relação ao pagamento, uma vez que, conforme detalhado anteriormente pelo Ministério da Economia, o Tesouro já garantiu US$ 4,5 bilhões para cumprir esse compromisso, que fazem parte das reservas do Banco Central.
Essa expiração pode atingir as reservas do Banco Central em um momento crucial. Após a visita do Fundo Monetário Internacional (FMI) ao país, e apesar dos elogios do porta-voz da organização aos ajustes fiscais e monetários do governo de Javier Milei, a aprovação da primeira revisão do FMI permanece em suspenso. A questão mais crítica são as reservas: apesar da enxurrada de dólares do setor agrícola e dos reforços de organismos internacionais, a Argentina continua longe da meta acordada com o organismo.
No entanto, o impacto nos cofres do Banco Central dependerá da origem dos detentores dos títulos. Em geral, os residentes detêm a maioria dos títulos regidos pela lei local (Bonares), mas os detentores de títulos estrangeiros dominam aqueles regidos pela lei americana (Globales).
A semana começará com uma nova Licitação do Tesouro. Na sexta-feira, o Ministério da Fazenda apresentou seu cardápio: 10 títulos diferentes, incluindo letras prefixadas indexadas ao Índice de Taxas Reduzidas (CER) e atreladas à taxa de câmbio. Conforme previsto pelo Ministério da Economia no mês passado, a partir da próxima quinta-feira, 10 de julho, o Tesouro deixará de renovar as LEFI (Títulos Financeiros), que são de propriedade dos bancos. Portanto, esta licitação será crucial: o Tesouro busca capturar os US$ 13,8 trilhões mantidos em LEFI, ao mesmo tempo em que refinancia um vencimento de mais de US$ 29 trilhões.
"Esta convocação ocorre pouco antes do vencimento dos títulos LEFI em 17 de julho, o que pode levar a uma reestruturação significativa das posições dos bancos, especialmente considerando que, a partir de 10 de julho, eles não poderão mais renovar esses instrumentos e as trocas antecipadas por LECAPs começarão. Esse influxo de liquidez pode gerar maior demanda pelos instrumentos oferecidos nesta licitação, especialmente os de curto prazo, e também pode ter um impacto mais amplo no restante da curva do peso", antecipou Aurum.
Na semana passada, Caputo não conseguiu renovar todos os pesos que estavam vencidos, e esse excesso de liquidez no mercado pode ter exercido pressão sobre a taxa de câmbio.
Na City, eles acreditam que o pagamento do bônus de Natal motivou os investidores de varejo a comprar dólares, livres das restrições dos controles cambiais. "A queda nas taxas overnight também contribuiu para o salto . O título caiu para 23,1% TNA, 10 pontos abaixo de duas semanas atrás", disse a GMA Capita, acrescentando: "Embora todos esses motivos sejam válidos, a intervenção oficial não pode ser descartada: o Tesouro comprou US$ 200 milhões na MLC há duas semanas, a primeira operação desse tipo neste governo."
O segundo semestre do ano costuma apresentar maior volatilidade devido ao calendário eleitoral, algo comumente associado a uma maior cobertura do dólar. De fato, 61% do movimento do "Contado con liqui" se explica no segundo semestre desses anos. Soma-se a isso o risco latente de menores entradas de moeda estrangeira, já que o "trimestre dourado" dos produtos agrícolas está sazonalmente atrasado", acrescentou a GMA.
Clarin