Acusações bancárias: impacto limitado?

A presidente mexicana Claudia Sheinbaum declarou ontem, 2 de julho, que não há grande impacto no sistema financeiro mexicano devido às acusações dos Estados Unidos contra dois bancos mexicanos e uma corretora.
O Chefe do Executivo disse que o setor financeiro mexicano não foi afetado pelas acusações feitas pelo Departamento do Tesouro dos EUA contra as três instituições financeiras mexicanas.
Ele insistiu que as três entidades mencionadas representam uma porcentagem muito pequena de todo o sistema.
E ele afirmou que a força do peso mostra que há confiança na economia do México.
Horas antes, após uma reunião do Comitê Associado da Associação Mexicana de Bancos (ABM), liderada por Emilio Romano, que contou com a participação do Ministério da Fazenda, da Comissão Nacional de Bancos e Valores Mobiliários, do Banco do México e da Procuradoria Federal, foi revelado que a Rede de Repressão a Crimes Financeiros (FinCen), agência do Departamento do Tesouro, não envolve outros bancos mexicanos.
A declaração do ABM afirma literalmente que "as autoridades mexicanas reiteraram que a ação da FinCen se limita exclusivamente aos dois bancos (CI Banco e Intercam) e, sob a estrutura de coordenação binacional existente, nenhuma medida adicional ou medida foi proposta para outras instituições bancárias".
Assim, indiretamente, ou seja, por meio de banqueiros que mantiveram conversas com as mais altas autoridades reguladoras do setor financeiro, tornou-se público que os EUA não estão envolvendo outros bancos em suas acusações.
O presidente Sheimbaum, sem dizer nada, deu a entender isso.
Até agora, ninguém no governo disse isso pública e abertamente.
Entende-se que as autoridades financeiras revelaram isso aos banqueiros naquela reunião.
É improvável que os banqueiros emitam uma declaração referindo-se a informações tão sensíveis sem a devida comprovação.
A questão é se o governo mexicano já foi oficialmente informado pelo Departamento do Tesouro de que eles estão acusando apenas as três instituições financeiras publicamente nomeadas até agora.
E se sim, por que eles não disseram isso abertamente?
Desde que o Departamento do Tesouro dos EUA emitiu ordens por meio da FinCEN em 25 de junho identificando as três instituições mexicanas como sendo de "principal preocupação por lavagem de dinheiro" relacionada ao tráfico de opioides, particularmente fentanil, a posição do governo mexicano é que não há evidências conclusivas para apoiar tais alegações.
A presidente mexicana disse que seu governo não protegerá ninguém e que, se evidências forem apresentadas a ela, ela até tomará medidas legais.
Até ontem, 2 de julho, essa posição não havia mudado. O que fez foi intervir na gestão dos bancos e da corretora para proteger o dinheiro e os interesses dos investidores.
Oito dias é muito tempo para um problema tão sério quanto o que esse grupo, ainda que pequeno, de instituições financeiras mexicanas está enfrentando.
As consequências que essas instituições estão enfrentando estão criando uma situação muito difícil para elas, embora todas as três tenham registrado números operacionais e de capitalização positivos.
Está claro que tanto o Chefe do Executivo quanto a organização dos banqueiros se mobilizaram para combater a crescente onda de especulações que apontavam para a possibilidade de acusações iminentes contra outros bancos mexicanos.
Além disso, sob a estrutura legal sob a qual o governo dos Estados Unidos está operando, ele pode não fornecer as evidências que o governo mexicano está solicitando.
O México está enfrentando um capítulo sem precedentes em seu relacionamento com os Estados Unidos.
O caso pode fazer parte do contexto político daquele país.
O México enfrenta um grande desafio que provavelmente vai além da esfera financeira.
Por enquanto, a condução da situação pelo Secretário de Finanças Edgar Amador tem sido prudente e eminentemente técnica.
O México precisa implementar urgentemente uma estratégia para fortalecer a supervisão e o controle do sistema financeiro e se coordenar com as autoridades financeiras dos EUA para superar essa situação difícil.
Vislumbres
Boas notícias! O governo mexicano reduziu em 85% o pagamento da dívida externa previsto para 2026.
Pré-pagou dois títulos soberanos, um denominado em dólares americanos e outro em euros, num montante total de 3,593 mil milhões de dólares
Com o saldo restante das operações do Banxico de 17,995 bilhões de pesos (correspondente ao final de 2024), o governo mexicano pagou o título em dólares.
Essas operações nos permitem minimizar os pagamentos da dívida externa previstos para o próximo ano. Ótimo.
Eleconomista